Já andava para falar de sentimentalidades e mulheres (de novo) há algum tempo e hoje encontrei um texto que me fez sorrir; o texto é antigo e fez-em acreditar que não tenho feito tudo mal.
Falar sobre mulheres não é um tema que me alicie em demasia, não só porque estou solteiro há demasiado tempo, com todo o pânico que isso pode causar, mas também porque é um tema que provoca sempre algum melindre. Mas vejamos.
Para os que vão responder que devo é arranjar namorada e que não percebo nada do assunto, confesso já que acho que estar solteiro não é doença nenhuma. Mas ao mesmo tempo, reconheço que uma manta e uma boa dose de carinho curam mais que 10 caixas de Ilvico.
Mas mais que o tema mulheres, preocupa-me a parte sentimental inerente à nossa relação com elas e delas connosco. Ocupo-me hoje duma dualidade incontornável: sentimento vs estabilidade, permitindo-me dispender sobre devaneios solteiristas e acima de tudo sobre o chamado (por mim) individualismo emocional.
Mais nobres preocupações se poderiam levantar, como a fome em África, o Ébola, a crise financeira, mas sobre essas já muitos se debruçam - e nada fazem. Cada um fala do que lhe dói e isto é tudo meu.
É muito mais fácil não amar e infelizmente essa é uma opção tomada de forma tão consciente, que chega a ser brutal: o encontro correu bem mas ela não liga, o estômago apertou depois de tanto tempo e o irmão fica doente, o pneu fura, a mãe precisa de carinho e o trabalho não pode ficar para o dia seguinte; e nunca mais a vemos, o cheiro dela volta-nos passadas demasiadas semanas quando nos cruzamos no Cais do Sodré, o elo perde-se, a ligação fica pelas meias tintas e ficou cada um na sua cena (a famosa zona de conforto, usada hoje ao desbarato).
Já o MEC falava neste assunto no seu Elogio ao Amor Puro e eu próprio já aflorei o tema em textos anteriores. O que faltou, a ele e a mim, foi conceptualizar a ideia: individualismo emocional. O que é?
Eu gosto, eu faço porque quero, porque me sabe bem, porque dá jeito, porque o Verão acabou, eu quero alguém para ir jantar fora, não quero ter frio no Inverno, estou cansado de estar solteiro, que me perguntem quando é que arranjo namorada, estou cansado de dar, apetece-me receber, seja o que for, de quem for e esta pessoa calha mesmo bem. É isto. Sem tirar nem por. É emocional sem o ser automaticamente por definição. O individualismo emocional é racional por definição, logo, contradiz-se a si próprio desde a sua génese. E é um mal mais geral do que os próprios intervenientes queiram e consigam acreditar.
Este racionalismo emocional enche discotecas de pitas à procura de garrafas, dinheiro e fama, centros comerciais de casais enfadonhos e adúlteros; contamina amizades, deturpa amores e sustenta de forma vazia uma sociedade cada vez mais desprovida de amor puro.
E deriva na proliferação de casais assentes na estabilidade e não no sentimento. "Ele nem é muito giro, pode até não gostar assim tanto de mim (como eu dele) e pode até já me ter traído, mas a minha vida com ele vai ser muito boa, vamos poder viver bem, passear muito e comprar coisas boas para os nossos filhos, que eu acho que vão ser lindos". Quem nunca ouviu algo do género que se acuse. Eu vomito em cima de afirmações como estas, as vezes que mas repetirem aos ouvidos.
Quem gosta não olha para a carteira, quem gosta não olha para si, exterioriza o amor que sente pelo outro para existir em função desse mesmo amor e não pelo que esse amor provoca em si; dentro dum verdadeiro amor está, acima de tudo, a outra pessoa, a outra pessoa, a outra pessoa. Sempre a outra pessoa, porque é ela que nos move e não o inverso. É ela que destrói a chuva, o vento, o sono, as birras e os pudores. E não o inverso. Dentro de nós estará o espanto da paixão, o espanto da profundidade e da perfeição: devido à outra pessoa estar tão dentro e completa em nós e não pelo amor que sentimos por ela apenas.
Quem gosta está no telemóvel, no Facebook, no Instagram, não para incluir na sua vida partilha de momentos perfeitos a dois, mas porque o conjunto é mais que o amor que sentimos dentro de nós. Estamos madrugada adentro, no carro e telemóvel (tão dentro); estamos dentro quando escrevemos cartas intensas, depois de treinos intensos, de dias intensos, de tudo intenso; o amor verdadeiro é intenso, porque sendo intenso não deixa espaço para pensar, não deixa espaço para conveniências, não permite mais nada, é isto.
Os verdadeiros apaixonados acham que o gostar deles é único e irrepetível, como se todos os outros que se gostam fossem ridículos por se acharem especiais e nem saberem quão longe estão da sua perfeição. E eles é que sabem!
Não é fácil encontrar o termo certo, moldar as relações da forma mais pura e grandiosa, o tempo é curto e já ninguém tem paciência para coisas grandiosas, contentamo-nos com amores comedidos, com relações que achamos que merecemos e que não dão muito cabo da cabeça, é uma verdade gasta mas à qual não é fácil fugir.
No entanto, enquanto continuarmos a encontrar no baú textos destes, o céu continuará azul e estamos, seguramente, no caminho certo:
"ser grande é uma coisa simples. tão simples que, quando encontras alguém grande, consegues logo identificá-lo. eu soube logo, mas logo, que tu eras grande. foi assim que te vi, naquelas estúpidas visitas virtuais que passaram a ser um ritual desde que descobri q és grande, ou seja, logo desde o início.
mas dizer o q é ser grande não é coisa tão simples assim. ou pq as palavras não suficientemente grandes (por muitas letras q tenham) ou pq a grandeza desse sê-lo transforma tudo em coisa mínima.
tu és grande pq não deixaste q o meu pensamento fosse para outro lado, mesmo quando devia estudar ou queria ver os morangos ou me apetecia simplesmente vegetar naquele sofá.
és grande porque as palavras pequeninas te chegam, porque o silêncio te chega, porque uma música te chega, porque um beijo ou dois te chegam para perceberes o que é ser-se grande.
és grande pq tens os músculos do judo, a experiência e a paixão de roma, a sensibilidade de 22 anos vividos em todos os sítios de onde és, o à vontade do bairro, a destreza de kuala lumpur, a boa onda da praia grande e uma beleza grega que fascina.
és grande pq não me fazes sentir pequenina, nunca. pq és mais forte do que eu, mais bonito do que eu, mais tranquilo do que eu, mais corajoso do que eu, sem nunca me fazeres sentir fraca ou feia ou stressada ou cobarde. isso é ser grande: ser-se melhor sem que os outros se sintam piores.
tu és grande pq cheiras bem, um cheiro que é só teu, pq tens uma pele de seda, pq tens uns olhos verdes e dentro, pq tens músculos aqui, aqui, aqui e aqui, pq tens aquela voz de homem, sem deixares de ser um menino, pq podes cmg com um único braço, como se eu fosse nada (mas sentido-me tudo, ao mesmo tempo).
grande pq me escreves cartas pequenas, grandes, assim-assim, pq envias sms qd tou no teatro ou a dormir ou a pensar em ti (sabes sempre quando é altura de me mandar um msg), pq me levas ctg ao bairro, ao pé dos teus amigos (uns grandes, outros pequenos, outros assim-assim), pq tens amigos q gostam de mim, pq fechas os olhos qd os teus se cruzam com os meus a meio do teu treino.
olha, és grande pq sobes a corda 3 vezes (2 das quais de seguida), pq consegues atirá-los ao chão, pq consegues fazer tantas flexões e abdominais e sprints juntos - e nem sabes o quão grande isso tudo te faz.
és grande, por fim, pq em ti cabe tudo. tudo o q uma menina-mulher como eu precisa e quer: beleza e força, inteligência e doçura, paixão e amor, estabilidade e flutuação, loucura e firmeza, música e letra, inverno e verão...
és muito grande. as coisas pequenas não te chegam. enquanto eu te chegar, serei grande também. Obrigada."
Não podias ter contraposto melhores argumentos... Depois de ler a tua parte e de me identificar com tanto do que descreves, o texto dela é uma chapada de luva branca para nos lembrar que o amor faz falta, muita falta. Como faz muita falta pessoas que nos escrevam o que ela aí escreve. Nessas declarações às vezes se encerra o sentido de uma vida. Porra.
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