quarta-feira, 10 de janeiro de 2018
Sinto a Tua falta
Demorei tempo até conseguir estar aqui hoje para te falar, Mãe.
Agora que já passou o Natal, época de família e amor, depois de muitas vezes me ter sentado sem que nada conseguisse escrever, com altos e baixos, mudanças, depressões, sorrisos... Agora que começou mais um ano e que já passou quase um ano desde a tua partida... A verdade é que só agora consegui vir aqui mandar-te um beijo e prestar-te homenagem...
Fazes-me falta Mãe, sabias? Claro que sabes, sempre soubeste tudo que eu precisava de saber. Perdemos a luta contra o monstro e nada mais foi (nem será) como dantes.
E é a sentir a tua falta sempre, que recordo os 6 anos de doença, tudo o que passámos e sofremos e quase que parece que toda a nossa vida se resumiu a viver e a sobreviver à doença. Tantos dias de consultas, de tratamentos intermináveis e hospitais, esperas, cortes de cabelo, unhas cinzentas, azia, fraqueza, aftas, angústias e esperanças... acreditavas que podias viver para sempre mas choraste muitas vezes com medo de morrer, lembras-te mãe? Eu sempre disse que sim, que se já aguentaste tanto, seria sempre assim, não te íamos perder! Desculpa mãe, afinal eu estava errado...
Neste Natal a tua ausência foi avassaladora...
Não tive aletria, filhós nem broas daquelas que tu sabes que eu adoro. Não te tive a ti, é isso, tudo isto eu posso sempre comprar. E não há nenhuma prenda que me possam oferecer, que substitua a falta de ti. É muito cliché, mas é mesmo assim.
Não há o brilho nos teus olhos pelas surpresas que me fazias, como se eu ainda tivesse 3 anos.
Recordei os Natais em que, não sei como, conseguias colocar a prenda em cima do fogão como se fosses o Pai Natal, apesar da minha insistente vontade em ficar acordado a tentar perceber como é que ele vinha pela chaminé sem se deixar apanhar. Recordo mas não o posso partilhar contigo. E isso é que é lixado (ou fodido mesmo), recordar mas não te ter, ser obrigado a viver de recordações provocadas pelo vazio da tua partida.
Não houve nem há casa cheia (ainda que sempre tenhamos sido poucos mas tu enchias qualquer casa) e a família é pouca, cada vez menor.
E não tem havido muita coisa...a tua perda tem sido difícil de gerir e nem sempre tenho estado equilibrado, desculpa-me mas para isto não me preparaste tu! Tenho feito o meu melhor e agora que já quase todos esqueceram que te foste, eu sinto tudo como se tivesse sido ontem (o ano voou)... Espero que estejas contente, tenho-me (temo-nos) aguentado e vou tentar manter-me assim, sempre em busca do homem que tu mereces que eu me torne, sempre, tudo por ti.
Sempre dizem que não partiste porque estarás sempre comigo, naquilo que eu sou e no homem que me tornei. Verdade. Mas isso vale uma bela merda quando eu só queria um beijo da minha mãe.
Já sinto a tua falta desde o dia em que partiste, talvez só agora com o Natal eu tenha conseguido escrever algumas palavras sobre o assunto; talvez agora, que faz quase um ano em que te foste embora, eu te consiga dizer a sério como me vais fazer falta a vida toda.
Sinto a tua falta quando chego à Tua casa e não estás, nem na sala nem no quarto vazio;
sinto a tua falta quando consigo mudar de trabalho e não te encontro para te perguntar se concordas, se continuas orgulhosa de mim;
sinto a tua falta quando revejo, vezes sem conta, os teus últimos dias de vida... em que recordo o murro no estômago quando soube por telefone que não havia mais nada a fazer, murro esse que só muito tempo depois começou a doer, depois de se perceber o tamanho da tragédia;
sinto a tua falta quando preciso da tua opinião, porque a tua opinião está (estava) quase sempre certa, seja nas coisas grandes, nas pequenas ou nas assim-assim;
sinto a falta de ouvir a tua voz, de te abraçar, isto é do que sinto mais falta e não preciso de ser um génio para saber que será das dores que mais doem e que nunca passam, apenas aprendemos a viver com ela, talvez;
sinto a tua falta para te dizer que a tua filha está tornada uma Mulher incrível e que as coisas com ela estão bem encaminhadas;
sinto a tua falta porque não consegui levar-te de novo a Moçambique;
sinto a tua falta porque a merda da doença te levou cedo demais e não vais poder abraçar os teus netos...;
sinto a tua falta para te dizer que tenho saudades tuas, que continuo o mesmo puto, sempre a sorrir e de bem como a vida, como tu me ensinaste a ser e que tenho mesmo pena de te ter perdido cedo demais;
sinto a tua falta quando choro a pensar em ti e na falta que me fazes no dia a dia (e se chorei muito este ano);
sinto falta de te ouvir cantar e gritar, de te ver dançar, de te ver sorrir, das tuas parvoíces, de quando implicavas comigo;
sinto a tua falta mas espero que estejas em paz e sei que continuas a mexer aí os cordelinhos para que continuemos todos a alcançar tudo o que nos está destinado e, se assim for, continuaremos para sempre juntos;
sinto a tua falta por todas as razões e mais algumas e todas as palavras serão sempre escassas para a falta que me fazes.
Amo-te muito! Bom Natal e bom ano Mãe!
Beijos meus, da Sara e da Mariana
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