terça-feira, 16 de setembro de 2014

O Verão

Faz tempo que não escrevo; já o comecei a fazer vezes sem conta nos últimos tempos; faz mais de 3 meses que aqui venho sem que nada de jeito saia, faz mais de 3 vezes que me perguntam se tenho algo novo no blogue, mas nada. Hoje percebi porquê.
Percebi porque não escrevi, mas sabia-o há já muito tempo. Porque foi Verão. E eu não gosto do Verão. E hoje choveu a potes e como parece que acabou o Verão, voltei a escrever. Funny...

Mas não é fácil não gostar do Verão. Tal como não é fácil não gostar de uma série de coisas de que toda a gente gosta.
Não é fácil não gostar das praias quando está muito calor (e elas estão cheias). É ver chegar Março e os termómetros baterem nos 24º C, para ver a generalidade das pessoas tirarem as carnes, ainda com resquícios de filhós, das calças e casacos, para logo rumarem aos areais, que logo ficam repletos, de pessoas e de imbecilidade. Não tenho nada contra, apenas não a tenho como uma vontade também minha, tal como sempre diz um amigo meu "um homem não faz, mas também não critica". Não tenho nada contra, mas posso ter uma opinião que me leve a fazer outras coisas que não ir à praia quando fique muito calor; não ter nada contra é diferente de não ter capacidade valorativa daquilo que nos rodeia e isso eu acho que todos devem ter (ainda que não julgue quem a não tem - uffff).

Tudo isto para dizer que não acho que devamos ser críticos acérrimos desta ou aquela opinião, muito menos fundamentalistas, cada um faz o que bem quer. Não obstante, esta é a minha "casa" e eu digo o que muito bem me apetecer e aceitar a diferença do outro não impede, no meu íntimo, de achar uma série de coisas, de grandessíma bestialidade.
Além desta corrida às praias, podia fazer uma lista extensa, possivelmente conexa em alguns pontos com a lista de coisas estúpidas de que já falei em tempos, mas perpendicular, na sua idiossincrasia, a ela.

Sem querer entrar em listas, basta falar de algumas, para se ter ideia do que falo.
Por exemplo, a (outra) corrida aos descontos. Escapa ao meu entendimento, correr para um supermercado ou uma bomba de gasolina, acumular cupões, coleccionar panfletos, quando isso nos obriga, respectivamente, a gastar mais para poupar menos, comprar coisas de que não precisamos, fazer mais kms e gastar gasóleo para supostamente poupar nesse mesmo combustível, viver de forma obcecada naquela colecção se isso nos retira prazer porque o bife era uma porcaria, se berramos com alguém porque perdeu um dos cupões ou o desconto na promoção já não está em vigor. Fazer mais para poupar mais, muitas vezes é menos, vida. Mas, um homem não faz, mas também não critica.

Por outro lado, o "ir para fora". Seja viajar por sistema, seja emigrar. Quem muito se ausenta, um dia deixa de fazer falta e quem faz da viagem o seu modo de vida, perde-se no caminho.
Sou fã de viajar, conhecer, tudo isso, mas não creio que seja necessário fazer disso gala. Agora estou na América do Sul, agora estou na Ásia e vou indo e vindo a Portugal favorecendo-o com a minha presença, porque sou muito cool e grande demais para este país. Já ninguém acha piada a isso.
Nem sequer da emigração um factor de destaque, vai para fora quem quer, vai quem precisa, mas vai e pronto, seriam de evitar os discursos emocionados de comiseração nacional e de pais chorosos no aeroporto. Vivemos numa época de ajuste à realidade e a culpa não é de ninguém, senão de nós mesmos, que tirámos cursos a mais, tirámos cursos que não serviam para nada, por isso a solução é emigrar, procurar o nosso lugar, que não merecemos para que fosse cá. Não merecemos e se calhar até nem queremos, preferimos emigrar porque achamos que Portugal é um atraso e no estrangeiro é que é bom. Por isso vão e não voltem. Os políticos são uma porcaria como sempre o foram, a culpa sempre foi deles e de todos, de modo que são de evitar falsos moralismos e falaciosos raciocínios vazios sobre o pobre estado da Nação.

Acima de tudo, a ideia que subjaz a este meu regresso aos textos, é a ideia das excitações colectivas e do quanto elas podem ser perniciosas na sua nossa existência em sociedade. Mais que o princípio de que um homem não faz, mas também não critica, é precisamente a interiorização de que não podemos e não devemos fazer todos as mesmas coisas.
Não temos de ir todos para o Algarve em Agosto, não temos de ir todos aos mesmos festivais, nem tirar as mesmas fotos nos mesmos sítios. Contra mim também falarei quando acho que deveríamos buscar a originalidade, ainda que levando uma vida próxima uns dos outros, julgo ser compatível a originalidade e a manutenção de um padrão próximo de comportamentos, assim consigamos (e a sociedade nos deixe) parar para pensar, ter raciocínio crítico, sem nos excluir dela.
Finalmente, acho que falta coração ao que a generalidade das pessoas faz. Somos animais sociais e o reflexo do meio no qual nos inserimos, mas se colocarmos coração no que formos fazendo, aquilo que vamos fazendo, ainda que igual, passa a ser mais nosso e, por isso, distinto.
Por isso eu não escrevi no Verão, porque é o tempo por excelência das vaidades e excitações colectivas, funciono melhor com a paz inerente à chuva do Inverno. Não obstante ser também eu um ser social e não recusando as minhas próprias incongruências, com o passar do tempo aprendes, vais aprendendo e continuo a aprender que a maturidade é uma benção e quem não parar para pensar nisto arrisca-se a levar um pedaço bem pequeno deste Mundo. Mas um homem não faz, mas também não critica.

E chove lá fora e eu não gosto do Verão :)
Até amanhã e até breve

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