Morreu Eusébio. Via à pouco na televisão as imagens no Estádio da luz, em que simbolicamente o caixão, dando seguimento a um pedido de sempre do Pantera Negra, dava uma volta à sua casa, aquela onde nunca jogou mas que continuará sempre a encantar e emocionei-me, de verdade.
Sou do FCPorto, amante incondicional do azul, do norte e do Porto, mas tocou-me a forma como um estádio chorava a perda da sua última e derradeira referência; o hino do Benfica que nada me diz, teve ontem um sabor forte, de perda colectiva da última grande lenda viva e Portugal ficou ontem, efectivamente, mais pobre.
Na verdade, enquanto o carro funerário percorria as ruas da capital, aplaudido por milhares de pessoas, uma cidade e um país despediam-se daquele que, em tempos, chorou por todos nós e essa é a maior lição que poderemos tirar, em jeito de reflexão, deste triste dia para Portugal: quem vive intensamente, mais cedo ou mais tarde, receberá, na exacta proporção, todo o carinho e reconhecimento que lhe são merecidos. E não se diga que devemos valorizar as pessoas enquanto cá andam, entre outros infindáveis disparates que sempre se ouvem nestas alturas de enlevo nacional, porque, efectivamente, as coisas sempre chegam no seu momento; pode não ser o certo, mas é o momento que lhes foi reservado, por um sem número de diversos e variados factores.
Por outro lado, o sentimento de perda é, provavelmente, dos mais fortes e difíceis de enfrentar. Vamos demorar a superar a morte de Eusébio, tal como demorámos (quase tanto) a superar a morte de Amália, tal como um apaixonado demora a ultrapassar um desgosto amoroso ou todos demoramos a superar a partida de um ente querido.
De facto, a perda e os finais - de vida, de amor, de ligação, de permanência -, são sempre tramados e representam, a meu ver, verdadeiras mortes, quando não o são mesmo até. Uma parte de nós ficará sempre com aquela menina que nos roubou o coração e não o devolveu, na cidade onde fizemos Erasmus, naquelas férias inesquecíveis, com aquele amigo que gostaríamos de ter à distância de um sms e não está já entre nós...
Por isso, façamos luto, honremos todas as mortes de que são feitos aquelas que cá andam para levar um pedaço forte deste Mundo, não tenhamos medo de chorar, de levar tempo a esquecer, de só voltar, efectivamente, a sorrir, quando fizer sol.
Sem comentários:
Enviar um comentário